terça-feira, 31 de maio de 2011

BUSOLOGIA - A história dos Ônibus - Parte 2


Monobloco Mercedes-Benz 0-321 HL Rodoviário 1952.
Uma grande novidade que não foi sinônimo de preocupação para a Carrocerias Eliziário.

Eliziário Belveder 1955 reestilizado, chassi Mercedes - Benz equipado com poltronas Pullman.
(Fonte da Imagem: Planalto Transportes)


    Em 1954 acontece a expansão do parque fabril da Carrocerias Eliziário, chegando a 2.050 m² de área construida.
    São implantados também diversos setores na fábrica, tais como: galvanoplastia, estamparia, fabricação de janelas, chapeação, estofaria, polimento e cabine de pintura.
    Astrogildo Goulart,  contabilista, estudioso e dedicado à empresa, organizou e implantou o departamento de recursos humanos e também o cartão ponto na Carrocerias Eliziário.
    Porém ainda em 1954, Astrogildo que acompanhou as atividades da Eliziário desde o princípio acaba deixando a empresa, fundando na Av. Assis Brasil a " Carrocerias Azirma " , passando a ser concorrente do pai.
    Infelizmente Astrogildo conseguiu manter a sua nova empresa somente até 1968, pois esta só conquistou posição de mercado na região norte.
   
Concorrente da Eliziário a Azirma obteve exito somente no norte do Brasil.
Carroceria Azirma, modelo rodoviário  Super Luxo 1960 , sobre chassi Ford F-350.

Nesta fotografia podemos ver um Eliziário Bi- Campeão Urbano na Av. Brasil no Rio de Janeiro, veículo estacionado sobre a calçada no lado esquerdo.
(Fonte da Imagem: Revista Veja )

    Eliziário tinha poucas paixões na vida além do seu trabalho, levava uma vida discreta, sem muitas diversões além da pescaria e da caça.

" Ele andou de bicicleta durante bons anos " , recorda a filha Aldamira Goulart.

    Nos finais de semana, atravessava o Guaíba atrás de alguma caça, juntamente com o genro Humberto Barbieri.
    Eliziário chegava a ir pescar na Argentina, mas na segunda-feira às 06:50 , já estava na empresa cuidando para que a semana começa-se de forma impecável, ficava louco de bravo quando alguma coisa não dava certo. " Eliziário pegava um serviço construía e concluía a carroceria e depois informava o preço ao cliente.
    Dava prazos enormes para os clientes da casa, por algumas vezes chegou a perder dinheiro para não protestar alguns títulos.

" Foi assim que ele venceu na vida, com honestidade " , diz o genro.


    Era começo dos anos 60, algumas pequenas novas empresas estavam surgindo e para se manter na frente Eliziário consulta seus fiéis frotistas que necessitavam de um carro diferenciado.
    O empresário Humberto Albino Bianchi da Viação Minunano sugeriu o uso de uma de suas invenções, a " poltrona leito " .
    Foi então, mais precisamente no ano de 1963, ano do Bi- Campeonato da Seleção Brasileira, em homenagem à mesma é lançado o modelo " Bi - Campeão " nas configurações urbano, rodoviário e rodoviário super luxo, derivando assim nas séries I, II e III.
    O Bi- Campeão teve um toque revolucionário sob os conceitos de carroceria, seu visual era inovador  e seus acessórios e componentes eram inéditos.
    O veículo começou a ser produzido ainda um pouco pesado, cerca de 3.300 Kg na versão rodoviária e 2.700 Kg, na versão urbana para 32 passageiros.
     A qualidade era insuperável, suas linhas, seu charme, as novas disposições de decoração interna e a lista de opcionais, faziam do Bi - Campeão a carroceria com melhor custo benefício, deixando assim novamente a Eliziário em posição privilegiada.
     A proposta do lançamento era tanta, que mesmo sem ter saído um unico veículo da linha de montagem, a empresa paranaense NSª da Penha, já havia encomendado 60 veículos, e em 1964 mais 40 veículos foram adquiridos, totalizando 100 unidades de Bi - Campeões em sua frota.
     O sucesso foi tão grande que ao mesmo tempo a Viação Minuano adquiriu logo de cara 20 unidades na configuração rodoviário Super Luxo Leito, sob chassi Scania-Vabis B-75 renovando a sua frota, deixando-a mais charmosa e com um toque inovador.
    


Eliziário Bi - Campeão Urbano, série I da Empresa Bianchi Transportes Coletivos.
( Fonte da Imagem: Acervo pessoal de Maria Jeremias )

Entrega das primeiras unidades do Eliziário Bi- Campeão Scania - Vabis, para a empresa NSª da Penha, na concessionária SUVESA em 1963.
(Fonte da Imagem: Acervo pessoal de Vladimir Monteiro)
O grande lançamento da Carrocerias Eliziário para 1963.
Eliziário Bi - Campeão Rodoviário Super Luxo na versão Scania - Vabis B-75.
(Fonte da Imagem: Acervo de Marcos Jeremias)

A Empresa de Carrocerias Irmãos Grassi, também era uma grande concorrente da Carrocerias Eliziário, no segmento dos ônibus urbanos.
( Fonte da Imagem: Acervo do Sr. Moacir Ramos)



Carrocerias Catelli & Henneman e Carrocerias Ott, duas grandes concorrentes gaúchas, da região do Vale do Sinos.

    A imponência  e as linhas dos veículos Eliziário, por muitas vezes foram copiadas, mas não chegavam a causar grande impacto.

Nicola Rodoviário sob chassi Mercedes-Benz.

     Na ocasião do lançamento do Eliziário Bi - Campeão em 1963, a empresa Viação Minuano de Porto Alegre através do seu proprietário o Sr. Humberto Albino Bianchi fiel e tradicional cliente da marca escolhe a dedo testar o primeiro ônibus leito brasileiro, em sua viagem inaugural no dia  04 de Maio de 1963 com 16 passageiros.
     O ônibus seria o grande e valente,  Eliziário Bi - Campeão rodoviário leito, montado sob o chassi Scania B-75.
     As viagens entre Porto Alegre e São Paulo, eram completadas em vinte horas, ( a primeira viagem entre essas duas capitais data de 1959 ).

" A viagem foi o maior sucesso, pois estavamos apresentando uma classe de serviço que era novidade para todos, e a procura pelo ônibus leito foi sensacional graças à  decisão da empresa em optar pelo melhor, aliado a qualidade dos produtos Eliziário e Scania" .

Altamiro Antônio Bianchi, filho do Sr. Humberto Albino Bianchi proprietário da Viação Minuano e da Bianchi Transportes Coletivos de Porto Alegre, hoje SOPAL.


Tanto na área urbana como rodoviária a família Bianchi sempre foi fiel a marca Eliziário em suas frotas.
Em destaque Eliziário " Gostosão " urbano 1963, sob chassi Chevrolet , na Av. Brasiliano Índio de Moraes, no bairro IAPI em Porto Alegre.


Porto Alegre x São Paulo com a Minuano.
Fidelidade a toda prova aos produtos Eliziário e Scania.
Material publicitário feito em 1963.


Eliziário Bi - Campeão Super Luxo Scania B - 75  1965, utilizado na linha Porto Alegre - Buenos Aires.

Vista interna do Eliziário Bi - Campeão, poltronas luxuosas e confortáveis, que contavam inclusive com cinzeiros na parte de trás do encosto  e também com um pequena cozinha e toalete.

Este é o Nicola II Rodoviário , concorrente do Eliziário Bi-Campeão.
Um pouco fora dos padrões, mas teve um bom número de vendas.

    Em 1965, o ramo de transporte coletivo,  exigia o lançamento de um novo produto.
    E a Carrocerias Eliziário, para mais uma vez disparar frente a concorrência, fez a reestilização de seus produtos, e apresentou um novo veículo chamado " Astro "  , nas versões urbano e rodoviário.

Eliziário Astro Urbano - Expresso Veraneio Ltda - EVEL .
( Fonte da Imagem: Acervo pessoal de Maria Jeremias)


    Neste mesmo ano a Carrocerias Eliziário detinha 54%  do mercado nacional de ônibus no território brasileiro, e tinha também grandes  concorrentes, todos com boa qualidade.
    Entre os concorrentes da Carrocerias Eliziário, estavam: Catelli & Henneman , Incasel , Ott , Grassi , Nielson , Decândia , Nicola , Ciferal , Metropolitana , Cermava , Mercedes - Benz , Nilo e a própria Azirma .

     Em  nota divulgada pela FABUS, associação que reúne as empresas fabricantes de carrocerias, entre os anos de 1950 e 1970, o Brasil teve mais de 20 encarroçadoras registradas.
    Isso sem contar empresas de outros ramos que se aventuravam a fazer ônibus e pequenos empreendedores que trabalhavam sem registro. E a explicação por esta decisão é muito simples.
     Os transportes por ônibus cresciam na medida em que as cidades se desenvolviam economicamente e em número de população.
     Os bairros estavam se desenvolvendo,  o que significava mais  pessoas para serem  transportadas.
     Surgiam empresas de ônibus mais fortes que precisavam de mais veículos.
     O mercado brasileiro exigia ônibus.
    Importar carrocerias em alguns períodos era praticamente inviável por causa dos custos, ora provocado por fatores externos, como conflitos mundiais, no caso dos anos 40, quando ocorreu  a Segunda Guerra Mundial, ou por internos, como a política nacionalista de Juscelino Kubitscheck que visava estimular a indústria nacional em detrimento dos produtos estrangeiros.
    Com a alta concorrência e a profissionalização de alguns investidores muitas encarroçadoras foram desaparecendo aos poucos.
    Algumas enfrentaram problemas administrativos e outras foram incorporadas por maiores, como a  " Metropolitana " comprada pela Caio, em 1977.
    A disputa era grande, mas a qualidade dos produtos Eliziário era inconfundível, segundo os empresários, como Dorvalino Jeremias , da extinta Expresso ABC .

“Eram os ônibus mais caros que existiam, mas em conforto, luxo, acabamento e qualidade, nenhum outro chegava perto... Naquela época eram os únicos com Toalete, cabine separada e poltrona leito a bordo... Pagava-se caro, mas se pagava por qualidade”.
   
    Devido a muitos problemas algumas foram desaparecendo do cenário e ao longo do tempo aos poucos a Nicola de Caxias do Sul ganhava espaço, em seu principal reduto com o recém contratado vendedor da empresa Antônio Carlos Zanellato Hilgert e isto representava certa ameaça a Eliziário.   
    Barbieri fez um convite a Hilgert na churrascaria Espeto de Ouro, onde costumava levar seus clientes, a intenção era contratar Hilgert, mas ele pediu muito... Estava fora da realidade, pois era braço direito do concorrente. Eliziário ficou assustado com o valor.

“Ele quer ganhar mais que o fabricante” , disse Eliziário.


    Em 1967 para substituir o Bi-Campeão rodoviário é lançado o ônibus que simbolizaria as 3.000 unidades produzidas a partir do alumínio, o E-3000 , que traria um toque mais moderno e imponente a linha de produtos da empresa.




O estilo e o charme das Carrocerias Eliziário - Eliziário  " E - 3000 " Rodoviário, com chassi Magirus - Deutz, da extinta Viação São Luíz ( SALTUR ) de Caxias do Sul.

Eliziário " E - 3000 " Urbano 1967, Mercedes - Benz LP - 321 .
Empresa NSª do Trabalho - Atual Nortran Transportes Coletivos de Porto Alegre/RS.
( Fonte da Imagem: Acervo pessoal de Maria Jeremias )

DIPLOMATA JO Mercedes - Benz LP 334 da Expresso ABC.
Concorrente da Nielson, para os rodoviários da Carrocerias Eliziário.
( Fonte da Imagem: Marcos Jeremias e Renata Bertoglio - Expresso ABC)

     A INCASEL de Caxias do Sul lança o modelo Continental Diplomata, concorrente direto dos demais ônibus rodoviários.
     Porém este modelo obteve pouca aceitação no mercado.

    A Mercedes - Benz e o seu Monobloco 0 -335 Rodoviário, mantendo as suas linhas arredondadas, este grande modelo obteve um bom número de vendas.  Em destaque ônibus número 39 da  " Expresso ABC ".
(Fonte da Imagem: Marcos Jeremias e Renata Bertoglio - Expresso ABC )


     No mesmo ano,  Eliziário Goulart empossa como seu braço direito o Sr. Humberto Barbieri.

     “Naquela época levava-mos cerca de uma semana para entregar um ônibus pronto,  a cada dia três ônibus eram produzidos.
     Lembro que os chassis chegavam de 12 em 12, muitas vezes um em cima do outro, aguardavam no pátio ao lado, e de três em três entravam na linha de montagem,  passavam pela ferraria para fazer a preparação do chassi, após isto eram instalados os tubos que davam inicio a construção da estrutura do ônibus.
      Era um processo muito engenhoso e no final vinha o orgulho... Lembro como se fosse hoje, quem trabalhava na Eliziário era tido como ótimo profissional, a época era muito difícil, ganhava-se muito pouco, mas éramos destaques assim como nas empresas VARIG e WALLIG.
     O  velho Eliziário como alguns chamavam, era exigente, tudo tinha que sair perfeito.
     Ele andava pra lá e prá cá na fábrica, se algo estivesse errado mandava desmanchar e logo  a equipe ganhava um puxão de orelhas, esta exigência toda fazia com que a Eliziário estivesse sempre a frente da concorrência, mantendo e atraindo cada vez mais clientes tradicionais e fiéis a marca como era o caso da Penha e da Família Bianchi além de vários outros.
     Em sua atividade comercial, vender exigia um incessante exercício de contato e deslocamento, fazendo com que alguns de seus diretores assumissem também o departamento de vendas.
     A divulgação era de porta em porta dos transportadores, munidos sempre com fotos mostrando as características de cada produto fabricado " .
Dirceu Fernandes da Silva, funcionário da Carrocerias Eliziário de  1960 á 1970.

Preparação de um chassi Mercedes - Benz.
Montagem de um ônibus Eliziário Astro Rodoviário.

Visita de algumas autoridades as instalações da Carrocerias Eliziário.
A esquerda Eliziário Goulart, um pioneiro símbolo de competência e criatividade.


Eliziário Astro Rodiviário em frente a Carrocerias Eliziário, pronto para ser entregue.



    Considerada fonte de inovações em transportes, a empresa procurava manter-se sempre a frente, e assim, em  outubro de 1967 foi  lançado no mercado, o modelo urbano símbolo das 3.600 unidades construídas em alumínio, o  " E-3.600 " nas versões rodoviário e urbano.
    Mais tarde,  em 1968 o " E-3-600R " ,  com faróis quadrados, este ônibus seria o modelo Luxo da série E-3.600.
    Em 1969 a Irmãos Nicola de Caxias do Sul, lança o modelo rodoviário Marcopolo que fora exposto no Salão do Automóvel em São Paulo, a Eliziário, sempre seguindo uma política de prudência e destaque lançaria assim no mercado em 18 de Agosto de 1969 como forma de  homenagem a Missão Apollo o modelo " Apollo 70 " com a marca recorde de 250 carrocerias por mês e  em dezembro do mesmo ano  o modelo  " Astro II " .


   


   A Viação Minuano, sempre primou pelo maior e melhor produto para oferecer a seus clientes o melhor atendimento.
   Na ocasião do lançamento do Eliziário E -3600 R Leito, a Viação Minuano adquiriu no mesmo instante, vinte unidades do novo ônibus, equipado com chassi Scania.
  A parceria, entre Viação Minuano, Scania e Carrocerias Eliziário, era muito mais do que um simples elo entre clientes .
  Fato publicado nos principais meios de comunicação da época.
  A esquerda um dos materiais publicitários da união destas três grandes empresas.








Eliziário E - 3600 R - Magirus - Deutz da paranaense " Princesa dos Campos ".

Eliziário E - 3600 Urbano, equipado com chassi Magiruz Deutz.
Veículo entregue para a empresa Trevo Transportes Coletivos de Porto Alegre.
(Fonte da Imagem: Acervo pessoal de Marcos Jeremias)


Eliziário Apolo Urbano lançado em 1969.

Eliziário Astro II Urbano Mercedes - Benz da Viação Canasvieiras/SC.

" Eliziário Astro Rodoviário Super Luxo "
A imponência dos produtos Eliziário, veículo da  Planalto Transportes, equipado com chassi FNM 1969.
( Fonte da Imagem: Planalto Transportes)

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